Andar, andar, nadar e dançar: como foi o Dimensions Festival 2015

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Você tem uma viagem dos sonhos?

Aquela que está há anos na lista das viagens-que-você-tem-fazer-antes-de-morrer, mas nunca sai do papel?

Ir ao Dimensions Festival era a minha.

Pensa em uma trilha sonora e um cenário dos sonhos: quatro dias em uma praia paradisíaca na Croácia, ouvindo música boa em ruínas do século 19 ou em um coliseu construído no ano 27 A.C.

Apesar do festival ser bem conhecido entre o público que gosta de música eletrônica não há muitos relatos na internet. Os poucos que encontrei pareciam amar o Dimensions pelo mesmo motivo: é um festival de música eletrônica para quem gosta de música eletrônica. Não precisa ser especialista no assunto, ser dj ou produtor, o que importa é amar a música que tá tocando ali.

O Dimensions acontece em Pula, na região da Istria, uma península ao norte da Croácia. Por estar bem longe do burburinho de Hvar, Dubrovnik ou Split, e mais perto da capital Zagreb, Pula é uma boa opção para quem vem de carro ou trem de outros países da Europa, além de ser bem mais barata que as praias do sul do país. Talvez por isso seja mais comum você encontrar grandes áreas para camping do que resorts na beira da praia.

Nosso trajeto foi de trem de Budapeste até Zagreb. De lá pegamos um ônibus e depois de quatro horas de belas paisagens montanhescas estávamos em Pula.


ONDE SE HOSPEDAR

O Hostel Amfora, onde ficamos, fica no município de Fažana, a 10km do centro de Pula (sim, já configura outra cidade).

Por ser bem menor que Pula — a cidade não tem nem quatro mil habitantes — a hospedagem lá acaba saindo mais em conta. Como o nosso plano era conhecer as praias da região e não ficar apenas dentro do festival, foi uma ótima escolha. O hostel (é o único da cidade e só abre no verão) fica a 2 minutos da praia, a 5km do festival e ao lado do ponto (também o único da cidade) de onde saem os ônibus para Pula, que passam de hora em hora. Ter quartos de casal com ar condicionado, por mais difícil que seja admitir (#velhas), também foi um dealbreaker.

Para quem só está buscando um lugar de fácil acesso ao festival, Fažana talvez não seja a melhor localização. Em Stinjan, a cidade (que mais parece um bairro) onde fica a entrada para o Dimensions, há várias casas e villas para alugar. Mesmo os hotéis e hostels no centro de Pula são mais vantajosos por ficarem perto da estação de onde sai um ônibus para o Fort Punta Christo de hora em hora.

Nina e seu ar condicionado portátil. Derreteu antes da gente chegar no festival.

Apesar de escrito no site, não existe nenhum ônibus para o festival saindo de Fažana. Ivan, o dono do hostel, contou que todo ano eles divulgam esse ônibus-truque, o que acaba atraindo alguns turistas para a cidade, mas o ônibus nunca apareceu. Quando fui questionar a organização o motivo para eles continuarem colocando esse ônibus fantasma no site apenas me mandaram “pegar um táxi” (que sai por volta de 200 kunas, 100 reais). Se você tiver pique, dá para ir andando pela orla da praia — mas separe pelo menos 45 minutos para ir e 45 para voltar.

O jeito mais fácil/barato que encontramos foi pegar um ônibus em Fažana em direção a Pula, descer em Stinjan e ir caminhando (por volta de 15 minutos) pelo bairro residencial até o festival. Um chip pré pago e o google maps funcionando também ajudam.

Fiz até um videozinho amador pra mostrar as andanças e a recompensa no final:

(Minha humilde tentativa de registrar um pouco do dia, da noite e da eterna caminhada para chegar no festival.)


O FESTIVAL

O festival é mesmo diferente dos outros. O lugar é dos mais lindos que eu já vi na vida, um público pequeno (5 mil pessoas em 2015), poucas pessoas causando e zero pegação — sério, vi uns dois casais se beijando, no máximo. Mas não se iluda, continua sendo um festival: ainda vai ter o perrengue para chegar, aquela pessoa que não para de falar durante o show, a cerveja superfaturada (30 kunas) e você vai voltar pobre, mesmo em um país relativamente barato como a Croácia. A maior parte do público vem do Reino Unido, assim como boa parte das atrações, então mentalize um preço pensado para turistas que recebem seus salários em libras. De chorar, né?

Sem desmerecer o line up — sempre muito bem selecionado — o headliner do festival é a sua locação. O show de abertura, que este ano teve Floating Points (live com sua banda incrível), Little Dragon e Four Tet, costuma acontecer na arena de Pula, um anfiteatro romano construído no ano 27 A.C. É umas das seis grandes arenas romanas ainda existentes no mundo, e uma das mais preservadas. Em alguns momentos fica até difícil se concentrar no palco com uma arquitetura tão imponente ao redor.

Já o resto do festival acontece no Fort Punta Christo, um forte construído no século 19, durante o Império Austro Húngaro, para proteger a cidade de Pula. Hoje em dia, além das ruínas, o forte abriga uma área de camping e uma das praias mais bonitas da região, com água cristalinas, peixes e, caso você dê sorte (a gente deu), águas-vivas gigantes

De dia a festa acontece direto na praia. São nas beach parties, que começam ao meio dia e terminam quando o sol se põe, onde as atrações mais instrumentais, calminhas e que não vão atrapalhar a ressaca de ninguém se apresentam.

Vale lembrar que as praias em Pula são bem diferentes dos paraísos de areia fofinha do Brasil. Sapatilhas de plásticos ou sandálias tipo Melissa são essenciais para entrar no mar, já que areia é artigo raro por lá.

Fora do festival as barraquinhas perto da praia costumam vender sapatos e colchões infláveis para viajantes despreparadas como nós. A parte boa é que sem areia (e praticamente sem ondas) a água fica ainda mais cristalina.

Aproveite que os peixes por lá não tem muito medo de humanos e são frequentadores assíduos do festival.

OH, HI! Pense em duas quianças com sangue latino correndo atrás de peixes.

A praça de alimentação fica aberta dia e noite e tem opções para todos os paladares (sim, tem comida vegetariana ❤) — serve de saladinha natureba ao kebab com fritas. Dá pra passar o dia inteiro lá dentro. Talvez o único desconforto ao emendar as beach parties com as festas à noite é que não tem nem vestiário, nem uma mísera ducha para quem não está hospedado no camping tirar o sal do corpo. Isso só será um problema se você tiver uma alma de 82 anos como a gente, claro.

Assim que o sol se põe o lugar se transforma completamente. A música se afasta da costa e passa para dentro do forte. Gramados amplos, antigos fossos e paredões de pedra se transformam em pistas de dança  — algumas com capacidade para mais de mil pessoas, outras para 60. São sete palcos espalhados pelo forte: ou seja, se prepare para andar bastante e saia com bons minutos de antecedência caso queira ver alguém tocar em outro palco.

Até fizemos uma listinha de artistas que não podíamos deixar de ver, mas não serviu para muita coisa. O legal mesmo é se perder pelas ruínas, se deixar surpreender com novos sons e conhecer artistas novos, sem uma programação muito fechada.

Não me atrevo a dar detalhes sobre os shows (o RA fez um vídeo incrível para a série Inside), mas posso falar que Mount Kimble (dj set), Lone, Flako e o show de abertura do Little Dragon (e o falafel da praça de alimentação) ganharam o meu coração. Dorian Concept e Lefto foram ótima descobertas. Four Tet saímos na metade, dsclp. John Talabot foi maravilhoso, mas já era o fim da última noite e minhas pernas não aguentavam mais dançar.

Como todo bom festival, voltamos com aquele deliciosa sensação de que um trator passou por cima dos nossos corpos. Mas já estou aqui juntando as moedinhas e sonhando com o próximo ❤

Ballhaus Grünau: a visita ao casarão abandonado em Berlim

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Lanterna, check. Casaco preto com gorro, check. Canivete, check. Direções anotadas em um caderninho para caso a bateria do celular acabe, check. Tudo preparado para tentar conhecer a Ballhaus Grünau, uma casa de bailes construída em 1895 que não abre suas portas há mais de 20 anos.

Tênis no pé, capa de chuva na cintura e algumas frases em alemão decoradas para usar caso um policial pergunte porque estamos invadindo uma propriedade privada.

Na minha cabeça estávamos embarcando em uma aventura super perigosa e totalmente ilegal, mas visitar lugares abandonados — ou urban exploring, como os blogs gringos gostam de chamar — já é um tipo de turismo bem conhecido na Europa.

O mapa da nossa aventura ilegal tinha sido facilmente encontrado na internet, onde blogs como o Digital Cosmonaut e o Abandoned Berlin dedicam-se a encontrar lugares abandonados — de hospitais a estações de trem — e dar o caminho do ouro, com mapas detalhados de como chegar e entrar, a qualquer um que visite o site. O próprio Ciarán Fahey, editor do Abandoned Berlin, já lançou até um livro com fotos e informações de seus lugares preferidos.

Blogs como estes surgem a cada dia e são amados por turistas e odiados por muitos locais. Eles reclamam que a popularização desse tipo de turismo está acelerando a depredação de algumas construções históricas abandonadas e aumentando a fiscalização em outras. Muitos acreditam que esses blogs foram os responsáveis por transformar lugares antes abandonados, como Teufelsberg e o Spreepark, em atrações turísticas lucrativas, com direito a guias, tours e entrada paga. Ou seja, gourmetizou. Já os editores dos sites alegam que se não fosse a divulgação de suas descobertas estes mesmos lugares estariam trancados e continuariam esquecidos.

De qualquer forma, eles continuam ativos e ajudando viajantes como nós a fugir do centro da cidade e, quem sabe, conhecer mais de perto sua história.

Antes de sair de casa é sempre bom dar uma lida na caixa de comentários dos blogs. Eu sei que são poucas as ocasiões em que ler os comentários de um post podem te ajudar em alguma coisa, mas elas funcionam como um fórum para futuros “exploradores” ficarem sabendo da situação atual do lugar que pretendem visitar.

O último comentário que vimos, escrito há menos de um mês antes da nossa visita, alertava que a Ballhaus Grünau estava cheia de pichações de grupos neonazi e pedia que os visitantes não fossem sozinhos e tomassem cuidado. De repente os policias alemães eram o menor dos problemas.

O foda de ser mulher, gay e latino-americana é que a gente nunca sabe se tá correndo o risco ser espancada por xenofobia, homofobia ou só por ser mulher mesmo.

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Chegamos na estação Grünau no meio de uma tarde cinzenta, ameaçando chover. Péssimo clima para entrar embaixo de estruturas de madeira que podem ceder a qualquer momento, mas ótimo para evitar velhinhas alemãs que adoram achar um motivo para denunciar alguém que não está seguindo as leis (elas estão por todas as partes).

O casarão é bem fácil de ser visto da Regattastraße. Sua entrada, um estreito buraco em uma das grades que cerca o terreno, fica próxima a um píer e um pequeno parque e, apesar de ser uma boa ideia não deixar ninguém perceber que você está passando por um buraco na cerca, uma senhora e dois pescadores que estavam por ali não pareceram se importar muito ao ver um casal saindo de dentro do cercado logo que chegamos.

Mesmo com o tempo feio, nos poucos minutos que ficamos na frente da Ballhaus bebendo uma cerveja e decidindo se deveríamos entrar ou não (será que essa mulher sentada na praça é uma policial à paisana? será que esses caras tão pescando de verdade?) quatro pessoas passaram pela grade. Nenhum sinal de cabeças carecas, tatuagens suspeitas ou botas pretas com cadarços brancos, apenas jovens com uma câmera no pescoço e uma cerveja na mão. Gente como a gente.

Ao passar pelo buraco na cerca e cruzar o gramado alto que se formou ao redor da casa a primeira sensação é de desapontamento. As duas casas que ocupam o terreno estavam muito mais degradadas do que as fotos mostravam. Todas as janelas foram bloqueadas, as escadas de acesso quebradas e boa parte do teto já não existe mais. Mas acima de tudo fica a pergunta: porque abandonaram um lugar tão bonito, na beira do rio, com tudo para ser um ponto turístico?

Quem viveu a época de ouro da Ballhaus Grünau mal reconheceria.

A primeira casa a ser construída, a Ballhaus Riviera, possuía um grande salão de bailes e diversas salas menores, além de um bar e um restaurante. A pista de dança se estendia até a beira do rio, onde palmeiras e mesas brancas imitavam um ambiente tropical, atraindo os endinheirados que já estavam acostumados a passear de barco pela região.

Alguns anos depois a segunda casa, Gesellschaftshaus Grünau, foi construída ao lado. Ela possuía um salão ainda maior, uma casa de banho e alguns quartos para hospedagem.

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Nos anos 20 e começo da década de 30, Berlim era uma das principais capitais mundiais da cultura e da boemia. Foram os anos de Dietrich, Brecht, Walter Benjamin e da Bauhaus. E por incrível que pareça, a cultura de passar dias e noites na pista de dança não começou no Berghain. Todos os músicos queriam se apresentar na Ballhaus Riviera.

Por sorte o terreno não foi danificado durante a guerra. Perdeu um pouco do seu requinte mas continuou funcionando durante a DDR, sob supervisão do Estado. Já com a reunificação da Alemanha a Ballhaus não teve a mesma sorte. Foi passando de proprietário para proprietário, virou casa noturna, Biergarten, mas o preço de sua manutenção era tão alto que nada deu muito certo. Por ser uma área protegida, poucos investidores quiseram se arriscar a comprar o terreno sabendo que não teriam liberdade para construir o que quisessem por lá.

Há rumores de que a proprietária do terreno, uma empresária turca, está torcendo para que tudo desabe e ela finalmente possa mandar demolir o resto e construir um condomínio de casas de luxo.

Falta pouco.

Como todas as entradas principais foram cimentadas, o único jeito de entrar é pela janela (mais um motivo para não ir sozinho). Em alguns cômodos ainda é possível ver o teto e os acabamentos de gesso, restos do papel de parede original, das cortinas e até um piano (com algumas teclas funcionando) que não sabemos quando foi colocado ali, mas que estava perfeitamente posicionado na direção do único feixe de luz que entra pelo saguão principal. A isca de instagram perfeita.

Apesar do casarão principal ter três andares, subir suas escadas é tarefa para os mais corajosos. Não arriscamos. A estrutura, quase toda de madeira, está totalmente danificada e a impressão é que o teto vai cair em nossas cabeças a qualquer momento.

Como o tempo estava fechando e ficar lá dentro enquanto chove ia contra a nossa vontade de viver, a visita foi rápida.

Se quiser saber um pouco mais da história, ver o mapa de como chegar ou só ter certeza de que a casa ainda existe antes de visitá-la, todas as informações estão aqui.

NDSM : conhecendo o norte de Amsterdam

Há quem diga que o que separa o viajante do turista é estar aberto à novas descobertas. Para mim, o melhor tipo de viagem é aquele em que você vai sem planos e horários definidos. Sem a obrigação de acordar cedo ou o medo de não conseguir visitar todos os lugares que você tinha planejado.

Eu já havia visitado Amsterdam antes e feito todo o básico: Anne Frank Huis, Vondelpark, museu do Van Gogh, Red Light District. Dessa vez tive 7 dias para conhecer a cidade com calma e tentar entender melhor seu lado menos turístico que chega a passar despercebido pra quem não sai do centro.

O NDSM com certeza foi a melhor descoberta.

Fomos para lá no inverno, em um dia frio e com aquele vento de matar que Amsterdam adora. Acabamos conhecendo só três lugares: Pllek, Pontstation e Noorderlicht Café. Mas já foi o suficiente para sair de lá fazendo planos para voltar no verão, alugar uma bike e conhecer melhor toda a região.

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Kollwitz não é só uma praça com feirinha aos domingos

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Em 2012, um amigo que já tinha ouvido minhas histórias de Berlim milhares de vezes me disse que estava rolando uma peça no MIS que eu iria adorar,a Kollwitzstraße 52.
Pra variar, fiquei enrolando para ir e acabei perdendo. Mas desde então psicopatizei com a tal Kollwitzstraße e, assim que cheguei em Berlim, fui correndo ver o que tinha de tão interessante por ali.

A Kollwitzplatz é uma pracinha na região de Prenzlauer Berg, aquele bairro que todo turista acha uma graça (eu, inclusive) mas que os jovens berlinenses adoram odiar. É uma das áreas mais antigas da cidade e a que menos sofreu com os bombardeios da 2a Guerra. Já foi um bairro de operários, artistas, fez parte da Alemanha Oriental e tem muita história pra contar. Claro que não demorou muito para todo mundo querer morar lá, os preços aumentarem, as baladas fecharam e toda aquela história de gentrificação que a gente vê diariamente nas grandes metrópoles. O bairro também é conhecido por ter a maior quantidade de carrinhos de bebê por metro quadrado da cidade.

O que poucos turistas sabem é que o nome Kollwitz é uma homenagem a uma das artistas gráficas (e ilustradora e escultura e mulher) mais incríveis da Alemanha, Käthe Kollwitz, que morou ali na esquina da Knaackstraße entre 1891 e 1943.

Apesar de ter nascido em uma família rica, Käthe se identificava com o Movimento Operário e usava sua arte (principalmente em xilogravuras) para retratar a situação social da Alemanha na época. Foi com a série A Revolta dos Tecelões (Werbezug)  que a artista começou a ganhar reconhecimento.

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Kollwitz continuou sua carreira registrando e participando de movimentos anti-guerra, lutando contra a pobreza e a fome, e simpatizando com o Comunismo. Além do ativismo, ela também ficou conhecida por suas declarações controversas: odiava grandes museus (te entendo, kat) e dizia que a bissexualidade era algo praticamente necessário se você quisesse ter uma produção artística. Isso no comecinho de 1900, tá? O diário que ela escreveu durante 45 anos já virou livro e deve ser incrível!

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Como esperado, suas atitudes revolucionárias não agradaram muito o regime Nazi. Seu marido foi proibido de trabalhar como médico e Käthe perdeu seu posto de professora na Universidade de Artes de Berlim. Em 1935 ela começou sua última série de gravuras, intitulada Morte (Tod).

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Se interessou? Esse site conta toda a história da artista. Mas se você não tá nem aí pra história ou para arte, na pracinha também rola aos finais de semana um Bio Markt e uma feirinha de antiguidades, daquelas com preços meio-absurdos-pega-turista, tipo Benedito Calixto.

Viajando de ferry de Londres até Amsterdam

Antes de falar sobre o jeito mais divertido de viajar entre Londres e Amsterdam, preciso explicar uma coisa: sou uma pessoa medrosa.

Sim, muito medrosa. Odeio dirigir. Mesmo viajando sempre, tenho pavor de avião. Só de pensar em ficar mais de uma hora dentro de um barco as cenas de algum navio hollywoodiano partindo ao meio já começam a me perturbar. Por isso o trem costuma ser a minha primeira opção na hora de viajar (sim, andar de trem é mais perigoso que todas as outras opções, mas vai explicar isso pra minha cabeça).

Sabe aquele ditado que diz que a melhor parte da viagem é o trajeto e não o destino final? É exatamente isso. Melhor ainda se o destino final for a estação central de alguma cidade e não um aeroporto a 20km de distância.

Mas na minha última viagem de Londres até Amsterdam eu resolvi encarar esse medo ridículo e experimentar um meio de transporte alternativo: o ferry. Ou barco. Ou balsa.

E tive as melhores 8 horas de viagem da minha vida.

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A música eletrônica na Alemanha Oriental

A Red Bull Music Academy montou seu mini studio na Wrangelstraße, em Berlim, e fica lá até o dia 29 de setembro. Dá pra ouvir a transmissão e algumas entrevistas com os artistas — intensivo de alemão de graça! — aqui.

Aproveitando a deixa, eles pediram ao ex editor da Groove Magazine, Florian Sievers, que reencontrasse os artistas pioneiros da música eletrônica na DDR (alemanha oriental) para contar como era a produzir naquela época.

Julius Krebs e a Fernsehturm

Julius Krebs e a Fernsehturm

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The Year of the Bush

Você acha que tem amigos super liberais, quiçá libertinos, até mostrar pra eles a foto de uma buceta peluda. The Horror!  Não sei bem quando se tornou aceitável deixar a sociedade/mídia/mercado/namorado ixcroto decidir o que você deve fazer com seus pêlos pubianos, mas tenho certeza que tem muita mulher por aí xingando o nosso país por ter inventado a famosa brazilian wax.

Não vou entrar a fundo na discussão, já tem bastante blog feminista fazendo isso mil vezes melhor do que eu poderia fazer. Mas companheiras, tenho algo pra jogar na cara falar para vocês: a tão temida buceta peluda está em alta.

Se ela ainda não começou a aparecer na timeline do seu tumblr, tenho algumas provas pra confirmar a tendência.

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Parte do projeto “Bringing back the bush” da fotógrafa Megan K Eagles. Não pegava?

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Linha, agulha e peitinhos

Agora que todas as mulheres desse lindo Brasil já aprenderam como ser hipster e fazer parte da turma mais cool da década, também já devem saber que as artes manuais estão na moda. Na verdade nunca saíram de moda, foi só a faixa etária que mudou. E com ela, novas inspirações surgiram. Lá fora esse grupo já tem até nome: Crafsters. Coisa de americano, o paraíso do scrapbook.

Crafsters assumidos (serião), Meghan Willis e seu marido, o fotógrafo Aaron Tsuro, tem uma atividade em comum : observar e registrar as curvas femininas. Ele com uma máquina na mão e ela com linha, agulha e alguns tecidos. Invejou?

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Barulhinho de metrô

Uma das coisas que eu mais odeio fazer em São Paulo e mais amo fazer quando viajo é andar de metrô.

Apesar de sempre incentivar quem viaja a andar de ônibus – você consegue enxergar a cidade e pode descer no próximo ponto, caso encontre alguma coisa interessante – meu senso de direção é quase nulo, então andar de metrô acaba sendo mais fácil ( o que não significa que eu não me perca. muito. o tempo todo. todos os dias. )

Por isso uma das coisas que mais me marca nas cidades que visito é o barulhinho que eu ouço em cada estação. O famoso Mind the gap londrino, Stand clear of the closing doors em NY (seguido de uma sirene porque, obviamente, sempre tem alguém emperrando a porta. Ou achou que isso era exclusividade brasileira?), Einsteigen Bitte e a sirene medonha no U-bahn de Berlim ou o sotaque carioca que eu tanto amo nas estações do Rio de Janeiro.

Para a minha ou a nossa alegria, encontrei um site dedicado a esse transporte público tão amado e odiado. Lá você consegue ouvir e baixar os sons (alô dêjotas!) e as fontes (alô dizainers!) de metrôs do mundo inteiro. O site também mostra o mapa, fotos e alguns dados históricos de cada cidade.

Deu saudade.

Joel Sternfeld e suas utopias

Fazia tempo que eu não ficava tão mexida com uma exposição. Na maioria das vezes acho tudo muito bonito, pego referências pra algum projeto  ­– que eu já vou ter esquecido depois de alguns drinks  algumas horas  – mas no final eu sei que nunca mais vou tirar do armário o caderninho onde eu anotei o nome do artista ou o nome da obra.  Pra ser mais exata, a última vez deve ter sido em 2009, na expo da Sam Taylor Wood, Crying Man. Mas quem não se emociona com esse bando de homem chorando?

Talvez tenha sido um perfect timing com o meu ciclo menstrual, mas depois que vi essa retrospectiva do Joel Sternfeld no C/O Berlin não consegui mais tirar suas imagens da minha cabeça.

A exposição fez total sentido com a época em que estamos vivendo. Os anos vão passando e as cidades vão ficando cada vez mais caóticas.  Nenhuma novidade por aqui. Não é a toa que neohippies estão por todas as partes (alô, Voodoohop!). Gypsies, se você for da moda. Quanto maior a pressão da sociedade, maior a força contrária de querer se livrar dela.

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Ruins of Drop City, Trinidad, Colorado, August 1995.

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